Foto: Andrew Caballero-reynolds/AFP

O encontro no Alasca e seus bastidores

No dia 15 de agosto de 2025, Donald Trump e Vladimir Putin se encontraram no Alasca em uma reunião que rapidamente chamou a atenção do mundo. Oficialmente, o encontro foi marcado pela tentativa de buscar caminhos para a paz na Ucrânia, mas, nos bastidores, outros elementos de caráter estratégico podem ter desempenhado papel central. Entre eles, destaca-se a questão das terras raras, recursos minerais fundamentais para a economia global e que têm sido utilizados como instrumentos de poder geopolítico.

A reunião, realizada em Anchorage, trouxe à tona não apenas o embate diplomático entre Estados Unidos e Rússia, mas também o pano de fundo de uma disputa silenciosa envolvendo minerais estratégicos que definem o futuro da indústria tecnológica, da defesa e da transição energética. Ao se analisar o contexto mais amplo, percebe-se que o tema das terras raras não surge apenas como detalhe secundário, mas como um dos principais vetores que ajudam a compreender os rumos da política internacional contemporânea.

O que são terras raras e por que são tão importantes

As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos, como lantânio, cério, neodímio e ítrio. Embora não sejam escassos na crosta terrestre, apresentam grande dificuldade de extração e beneficiamento, o que faz com que sua exploração se concentre em poucos países.

Esses elementos são essenciais para a fabricação de bens de alta tecnologia:

  • baterias de veículos elétricos,
  • ímãs permanentes usados em turbinas eólicas,
  • smartphones,
  • computadores,
  • satélites,
  • radares e armamentos de última geração.

O domínio sobre esses recursos significa controlar cadeias produtivas inteiras que sustentam tanto a economia verde quanto a indústria militar. É por isso que, em um cenário de rivalidade crescente entre potências, as terras raras se transformaram em uma das armas mais poderosas da geopolítica global.

O papel da China no mercado global

Quando se fala em terras raras, é impossível não citar a China, que responde por mais de 60% das reservas de terras raras do mundial e, mais importante, por cerca de 90% do processamento industrial. A extração desses minerais pode ocorrer em outros países, mas o refino — etapa crucial para transformá-los em insumos utilizáveis — está praticamente monopolizado pelos chineses.

Pequim tem plena consciência do peso estratégico dessa vantagem. Nos últimos anos, o governo chinês adotou uma política firme de controle sobre exportações, estabelecendo cotas rígidas e restringindo o acesso de empresas estrangeiras. Além disso, passou a vincular diretamente sua produção ao interesse nacional, utilizando as terras raras como instrumento de pressão econômica e diplomática.

Em pronunciamentos recentes, a China reiterou que a gestão de seus recursos minerais é uma prática legítima e soberana. Contudo, para os Estados Unidos e seus aliados, esse posicionamento representa uma ameaça concreta. Afinal, qualquer restrição imposta por Pequim tem impacto imediato na indústria global, gerando instabilidade e forçando outros países a buscar alternativas de fornecimento.

O Alasca como trunfo norte-americano

É nesse ponto que o Alasca ganha relevância. A região, conhecida por suas riquezas naturais, abriga reservas significativas de minerais estratégicos, incluindo terras raras. Ao receber Putin em Anchorage, Trump teria aproveitado a oportunidade para sugerir que o acesso a tais recursos poderia fazer parte de um eventual acordo.

A lógica seria clara: ao envolver a Rússia nesse processo, os Estados Unidos poderiam reduzir sua dependência da China e, ao mesmo tempo, oferecer a Moscou um incentivo econômico para suavizar sua posição na guerra da Ucrânia. Embora nada disso tenha sido confirmado oficialmente, a especulação ganhou força justamente porque se alinha à realidade geopolítica atual.

Além disso, o histórico norte-americano já mostra preocupação em relação a essa dependência. A mina de Mountain Pass, na Califórnia, é uma das poucas fontes de terras raras em território estadunidense, mas ainda não tem capacidade de refino suficiente. Nesse cenário, o Alasca aparece como uma peça-chave para diversificar o acesso e aumentar a autonomia mineral dos EUA.

A posição da Rússia diante das terras raras

A Rússia, por sua vez, também tem reservas de terras raras, mas sua exploração ainda é pouco desenvolvida. No entanto, Moscou busca ampliar sua inserção nesse mercado, tanto para diversificar sua economia quanto para se aproximar de parceiros estratégicos. Uma eventual cooperação com os Estados Unidos poderia representar uma oportunidade rara para o Kremlin, que enfrenta pesadas sanções ocidentais desde o início da guerra da Ucrânia.

Dessa forma, ao colocar o tema das terras raras na mesa, Trump não apenas buscou pressionar Putin em relação ao conflito, mas também acenou com uma possibilidade de ganhos mútuos em uma área que se tornou central para o século XXI.

Outros países no tabuleiro das terras raras

Embora China, Estados Unidos e Rússia concentrem a maior parte do debate, outros países desempenham papéis relevantes no mercado global. A Austrália, por exemplo, vem se consolidando como importante produtora e investe em refinarias próprias para reduzir sua dependência de Pequim. A Índia também busca ampliar sua exploração mineral, enquanto alguns países africanos, como a República Democrática do Congo e Moçambique, emergem como novos atores potenciais.

Entretanto, o que limita a atuação desses países é justamente a falta de infraestrutura para o processamento. Produzir é apenas uma parte do processo; transformar o minério bruto em insumo útil para a indústria é um desafio muito maior, dominado pela China. Essa centralização explica por que qualquer medida de Pequim ressoa de forma global, impactando preços, cadeias de suprimentos e, em última instância, a economia mundial.

Terras raras como recurso de poder geopolítico

O episódio da reunião entre Trump e Putin mostra como os minerais estratégicos transcendem a esfera econômica e se projetam como armas de poder geopolítico. Não se trata apenas de recursos para a indústria tecnológica, mas de um fator de soberania nacional. Quem controla as terras raras controla o ritmo da transição energética, a produção de armamentos sofisticados e até a capacidade de desenvolver novas tecnologias digitais.

Nesse sentido, a China segue à frente, utilizando sua posição privilegiada como uma forma de diplomacia dos recursos. Os Estados Unidos, por outro lado, buscam alternativas, seja investindo em suas próprias minas, seja tentando mobilizar parceiros estratégicos. A Rússia, fragilizada economicamente, enxerga nesse mercado uma chance de retomar parte de sua influência. Já países emergentes buscam ocupar nichos que ainda estão abertos, tentando atrair investimentos e tecnologia.

Conclusão: um recurso que define o século XXI

O encontro de 15 de agosto de 2025, portanto, não pode ser visto apenas como uma tentativa de resolver a guerra na Ucrânia. Ele deve ser compreendido como parte de um tabuleiro mais amplo, em que as terras raras surgem como moeda de negociação, fator de pressão e instrumento de poder.

Enquanto a China reafirma seu domínio, os Estados Unidos tentam reduzir vulnerabilidades, e a Rússia busca inserção nesse mercado, a disputa por esses minerais revela-se não apenas uma questão econômica, mas também um elemento definidor das relações internacionais do século XXI.

A lição que se extrai desse episódio é clara: em um mundo cada vez mais tecnológico, interconectado e dependente de recursos estratégicos, os minerais do futuro não estão apenas no subsolo, mas também no centro das negociações políticas que moldam o presente e o futuro da ordem global.

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