Fonte: famousscientists.

Poucas ideias revolucionaram tanto a ciência da Terra quanto a teoria da Deriva Continental. Proposta no início do século XX, ela transformou a maneira como geólogos, geógrafos e cientistas entendem a dinâmica do planeta.
Antes dela, acreditava-se que os continentes sempre estiveram nas mesmas posições. Hoje, sabemos que eles se movem lentamente sobre o manto terrestre, redesenhando a face da Terra ao longo de milhões de anos.

Este artigo vai explicar o que é a Deriva Continental, quem a formulou, quais são as evidências científicas que a comprovam e como ela deu origem à moderna Teoria da Tectônica de Placas — fundamental para entender fenômenos como terremotos, vulcões e formação de montanhas.

O que é a Deriva Continental?

A Deriva Continental é uma teoria geológica que propõe que os continentes não são fixos, mas se movem lentamente sobre a superfície da Terra, deslocando-se ao longo de milhões de anos.
Essa ideia foi formulada pelo meteorologista e geofísico alemão Alfred Wegener, em 1912, e publicada em 1915 no livro A Origem dos Continentes e Oceanos (Die Entstehung der Kontinente und Ozeane).

Segundo Wegener, há cerca de 200 milhões de anos, todos os continentes estavam unidos em um único supercontinente chamado Pangeia (do grego, “toda a Terra”).
Com o tempo, essa massa continental começou a se fragmentar, dando origem aos continentes que conhecemos hoje.

Alfred Wegener: o pai da Deriva Continental

Alfred Wegener – Wikipédia, a enciclopédia livre
Alfred Wegener (1880–1930)

Alfred Wegener (1880–1930) não era geólogo de formação, mas meteorologista e explorador polar.
Durante suas expedições à Groenlândia, ele observou semelhanças notáveis entre os litorais de diferentes continentes, especialmente entre a América do Sul e a África. Essa observação foi o ponto de partida para sua hipótese revolucionária.

Wegener reuniu evidências de diversas áreas do conhecimento — geologia, paleontologia, climatologia e geografia — para sustentar sua ideia.
Apesar disso, sua teoria foi duramente criticada por cientistas da época, principalmente porque ele não conseguiu explicar o mecanismo que fazia os continentes se moverem. Esse mistério só seria solucionado décadas depois, com o avanço da oceanografia e o desenvolvimento da teoria da Tectônica de Placas.

Evidências da Deriva Continental

Wegener reuniu várias linhas de evidência que, mesmo sem o apoio tecnológico atual, mostravam a coerência de sua teoria.
Essas evidências continuam sendo fundamentais no ensino da Geografia e da Geologia moderna.

1. Encaixe dos continentes

Ao observar o mapa-múndi, percebe-se que as costas da América do Sul e da África parecem se encaixar como peças de um quebra-cabeça. Essa coincidência não é mera aparência: estudos geomorfológicos comprovaram que as plataformas continentais — áreas submersas próximas às margens — também se ajustam perfeitamente.

2. Fósseis idênticos em continentes distantes

Fósseis de animais e plantas idênticos foram encontrados em continentes atualmente separados por oceanos.
Exemplo: fósseis do réptil Mesosaurus foram encontrados tanto no Brasil quanto na África do Sul, embora a espécie fosse incapaz de atravessar o Atlântico.
Isso indica que, no passado, esses continentes estavam fisicamente unidos.

3. Semelhanças geológicas

Rochas e cadeias montanhosas de mesma idade e composição foram identificadas em regiões hoje distantes.
As montanhas da África Ocidental e as da América do Sul, por exemplo, apresentam continuidade geológica, sugerindo que faziam parte da mesma cadeia antes da separação continental.

4. Evidências paleoclimáticas

Depósitos glaciais e vestígios de antigos climas mostram que regiões hoje tropicais já estiveram em zonas polares.
Marcas de geleiras na África e na Índia, por exemplo, comprovam que esses continentes já estiveram em posições muito diferentes das atuais.

A rejeição inicial e a reviravolta científica

Apesar das evidências, a teoria de Wegener foi amplamente rejeitada pela comunidade científica em seu tempo.
O principal motivo era a falta de uma explicação plausível para o movimento dos continentes.
Wegener sugeriu que os continentes deslizavam sobre o fundo oceânico, mas essa hipótese não resistia aos cálculos físicos da época.

Somente a partir da década de 1950, com o avanço dos estudos sobre o fundo dos oceanos, surgiram novas descobertas que mudaram tudo.

O elo perdido: a expansão do assoalho oceânico

Durante a Guerra Fria, a tecnologia de sonar permitiu mapear o fundo dos oceanos com precisão.
Os cientistas descobriram a existência de cadeias montanhosas submarinas, chamadas dorsais oceânicas, que percorrem os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico.
Nessas regiões, o magma sobe do interior da Terra, criando nova crosta oceânica e empurrando as placas para os lados.

Esse fenômeno, conhecido como expansão do assoalho oceânico, forneceu o mecanismo que faltava para explicar o movimento dos continentes previsto por Wegener.
Com isso, a teoria da Deriva Continental foi incorporada à Teoria da Tectônica de Placas, hoje amplamente aceita.

Da Deriva Continental à Tectônica de Placas

A Tectônica de Placas é a evolução da teoria de Wegener.
Ela afirma que a litosfera terrestre — a camada sólida mais externa da Terra — está dividida em grandes blocos chamados placas tectônicas, que flutuam sobre uma camada viscosa do manto denominada astenosfera.

Essas placas movem-se lentamente (de 2 a 10 cm por ano), e suas interações causam diversos fenômenos geológicos.

Tipos de limites entre placas:
  • Convergente: quando duas placas colidem (exemplo: placa de Nazca e placa Sul-Americana, que formou a Cordilheira dos Andes).
  • Divergente: quando duas placas se afastam (exemplo: dorsal mesoatlântica).
  • Transformante: quando deslizam lateralmente uma sobre a outra (exemplo: falha de San Andreas, nos EUA).

Assim, o que Wegener chamou de “deriva dos continentes” é, na verdade, o resultado do movimento das placas tectônicas que carregam os continentes sobre elas.

As consequências da Deriva Continental na história da Terra

O movimento dos continentes moldou a geografia do planeta ao longo de centenas de milhões de anos.
Essas mudanças tiveram impacto direto no clima, na evolução das espécies e até na história geopolítica da humanidade.

1. Formação dos oceanos e montanhas

À medida que os continentes se separam, formam-se oceanos e bacias oceânicas. Quando colidem, erguem-se cordilheiras e montanhas.
Exemplo: o choque entre a Índia e a Ásia originou o Himalaia, a cadeia montanhosa mais alta do mundo.

2. Distribuição dos continentes e do clima

A posição dos continentes influencia correntes oceânicas e massas de ar, afetando diretamente o clima global.
Durante a existência da Pangeia, por exemplo, o interior do supercontinente era árido e desértico devido à distância dos oceanos.

3. Evolução das espécies

A separação continental criou barreiras naturais que isolaram espécies e permitiram a diversificação da vida.
Esse processo foi crucial para a evolução biológica, explicando a presença de espécies únicas em regiões específicas (como os marsupiais na Austrália).

Pangeia, Laurásia e Gondwana: os grandes blocos continentais

A história da Deriva Continental é também a história da fragmentação da Pangeia.
Os geólogos identificaram três principais fases nesse processo:

  1. Pangeia (há cerca de 250 milhões de anos) — um único supercontinente cercado por um oceano chamado Pantalassa.
  2. Laurásia e Gondwana (há cerca de 180 milhões de anos) — a Pangeia se dividiu em dois grandes blocos:
    • Laurásia, ao norte (atual América do Norte, Europa e Ásia);
    • Gondwana, ao sul (América do Sul, África, Índia, Antártica e Austrália).
  3. Configuração atual (há cerca de 65 milhões de anos até hoje) — os continentes continuam a se mover, e esse processo segue em curso.
Deriva continental: o que é, causas, evidências - Escola Kids

Estima-se que, daqui a 250 milhões de anos, os continentes poderão novamente se unir, formando uma nova supermassa chamada Pangeia Proxima.

Evidências modernas do movimento continental

Hoje, a tecnologia GPS permite medir com precisão o deslocamento dos continentes.
Por exemplo:

  • A América do Sul está se afastando da África a uma taxa de cerca de 3 cm por ano;
  • A Austrália está se movendo em direção ao norte a 7 cm por ano;
  • A Placa do Pacífico é uma das mais dinâmicas, deslocando-se constantemente para o oeste.

Essas medições confirmam o que Wegener propôs há mais de um século — os continentes realmente se movem, ainda que lentamente.

A importância da teoria para a Geografia e a Geologia

A teoria da Deriva Continental não apenas revolucionou a ciência da Terra, mas também forneceu bases sólidas para compreender:

  • A origem dos terremotos e vulcões;
  • A formação dos continentes e oceanos;
  • A distribuição dos minerais e recursos naturais;
  • As mudanças climáticas do passado geológico.

Ela é um dos pilares da Geografia Física moderna e fundamental para entender a dinâmica do planeta.

Conclusão:

O que antes parecia uma ideia ousada tornou-se um dos maiores avanços científicos do século XX.
A Deriva Continental foi o ponto de partida para compreender que a Terra é um planeta em constante movimento, e que o tempo geológico atua de forma lenta, mas poderosa.

Wegener morreu antes de ver sua teoria ser confirmada, mas sua contribuição mudou para sempre a história da ciência.
Hoje, cada terremoto, cada nova montanha e cada erupção vulcânica são testemunhos vivos da mobilidade dos continentes que ele previu.

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