A Era Vargas é um dos capítulos mais importantes da história do Brasil. Esse período, que se estendeu de 1930 a 1945, foi marcado pela ascensão de Getúlio Vargas ao poder, pela centralização política, por avanços nas leis trabalhistas e pela convivência entre autoritarismo e aproximação com as massas populares. Ao longo de 15 anos, o país passou por profundas transformações políticas, sociais e econômicas que moldaram a estrutura do Estado brasileiro contemporâneo.
Como Vargas Chegou ao Poder?
A ascensão de Vargas ao comando do país aconteceu a partir da Revolução de 1930. Naquele momento, o Brasil era governado por uma política conhecida como Política do Café com Leite, em que as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se revezavam na presidência. No entanto, em 1930, o presidente Washington Luís rompeu esse acordo ao apoiar o paulista Júlio Prestes para a presidência, desagradando as elites mineiras e outros setores políticos.
A insatisfação resultou na formação da Aliança Liberal, que lançou Getúlio Vargas como candidato. Apesar da vitória de Júlio Prestes nas eleições, o resultado foi contestado e, com o assassinato de João Pessoa, vice de Vargas, em Recife, as tensões se agravaram. Assim, em 3 de outubro de 1930, teve início a Revolução, que depôs Washington Luís no dia 24 do mesmo mês. Uma junta militar assumiu provisoriamente o poder e, em 3 de novembro de 1930, Vargas foi nomeado chefe do governo provisório.
As Três Fases da Era Vargas
Os historiadores costumam dividir a Era Vargas em três períodos distintos, cada um com características próprias:
Governo Provisório (1930-1934)
O início do governo de Vargas foi pensado como temporário, até que uma nova Constituição fosse elaborada. Contudo, Vargas logo mostrou sua habilidade política ao centralizar o poder e dissolver o Congresso Nacional. As decisões passaram a ser tomadas por decretos, e as intervenções federais em estados como São Paulo geraram tensões, culminando na Revolução Constitucionalista de 1932.
Esse movimento, liderado pelos paulistas, exigia a convocação de uma Assembleia Constituinte. Apesar da derrota militar dos revoltosos, a pressão política forçou Vargas a convocar a Constituinte em 1933, resultando na promulgação da Constituição de 1934, moderna para a época e que, entre outros avanços, garantiu o voto feminino.
Governo Constitucional (1934-1937)
Com a nova Constituição, Vargas foi eleito presidente de forma indireta para um mandato de quatro anos. Nesse período, o país enfrentou forte radicalização política, marcada pelo surgimento de dois grupos antagônicos: a Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, e a Aliança Nacional Libertadora (ANL), de orientação comunista.
A tensão política atingiu o ápice em 1935, com a Intentona Comunista, uma tentativa fracassada de golpe organizada pela ANL. Por sua vez, Vargas aproveitou-se desse episódio para instaurar o estado de sítio, restringindo liberdades e fortalecendo seu projeto de centralização. Em 1937, usando como justificativa o suposto Plano Cohen — um falso documento que denunciava uma conspiração comunista — Vargas deu um golpe e instaurou o Estado Novo.
Estado Novo (1937-1945)
O Estado Novo foi a fase mais autoritária da Era Vargas. A nova Constituição outorgada era extremamente centralizadora, e o governo passou a governar por decretos-leis. O Congresso Nacional foi fechado, partidos políticos proibidos e a imprensa severamente censurada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Ao mesmo tempo, Vargas consolidou um projeto de aproximação com os trabalhadores, criando leis e benefícios inéditos, como o salário-mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Essa estratégia fazia parte do chamado trabalhismo, que apresentava Vargas como o “pai dos pobres”, ao mesmo tempo em que mantinha rígido controle sindical e político.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil rompeu relações com os países do Eixo e enviou tropas para a Europa, o que contribuiu para o enfraquecimento do regime. Com a pressão popular e militar pela redemocratização, Vargas foi forçado a renunciar em 29 de outubro de 1945.
Características da Era Vargas
Entre as principais marcas desse período histórico, destacam-se:
- Centralização do poder nas mãos do Executivo.
- Abolição de partidos políticos e fechamento do Congresso durante o Estado Novo.
- Uso intenso da propaganda oficial para promover a imagem do governo.
- Aproximação estratégica com os trabalhadores, incluindo a criação de leis trabalhistas e benefícios sociais.
- Radicalização ideológica, com surgimento de movimentos fascistas e comunistas.
- Repressão a opositores políticos, censura e controle da imprensa.
- Participação na Segunda Guerra Mundial e alinhamento final aos Aliados.
Conclusão
Por fim, a Era Vargas deixou marcas profundas no Brasil. Se por um lado promoveu a modernização das leis trabalhistas e fortaleceu o papel do Estado na economia, por outro implantou práticas autoritárias e centralizadoras. Além disso, consolidou a cultura política de personalismo e de líderes populistas.
Getúlio Vargas voltaria ao poder anos depois, eleito pelo voto direto em 1950, reforçando seu legado controverso, marcado por avanços sociais e práticas autoritárias
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