Introdução
A Guerra da Coreia (1950–1953) foi um dos conflitos mais marcantes do período da Guerra Fria, responsável por dividir a península coreana em dois países até os dias atuais: a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Mais do que uma disputa regional, o conflito representou o choque direto entre duas ideologias em expansão: o capitalismo, liderado pelos Estados Unidos e seus aliados, e o comunismo, apoiado pela União Soviética e pela China.
Com batalhas sangrentas, milhões de mortos e destruição generalizada, a guerra terminou sem um tratado de paz formal, apenas com um armistício que até hoje mantém a península em constante tensão. Neste artigo, vamos entender como surgiu a Guerra da Coreia, seus principais acontecimentos, atores envolvidos e as consequências que marcaram a geopolítica mundial.
Contexto histórico: a Coreia antes da guerra
O domínio japonês sobre a Coreia (1910–1945)
Para compreender a Guerra da Coreia, é essencial entender a situação da península no início do século XX. A Coreia foi anexada pelo Japão em 1910, tornando-se parte de seu império. Durante 35 anos, os coreanos viveram sob forte repressão cultural, política e econômica.
O Japão proibiu o uso da língua coreana, explorou recursos naturais e utilizou a mão de obra local em condições de exploração. Muitos coreanos foram obrigados a lutar no exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial ou trabalhar como escravos industriais. Esse período deixou marcas profundas na identidade do povo coreano.
A divisão da Coreia após a Segunda Guerra Mundial
Com a derrota do Japão em 1945, a Coreia foi “libertada”, mas a liberdade logo se transformou em divisão. Os Aliados decidiram dividir a península ao longo do paralelo 38:
- Norte: ocupado pela União Soviética, que apoiou a criação de um governo comunista.
- Sul: ocupado pelos Estados Unidos, que promoveram a criação de um governo capitalista.
Essa divisão, inicialmente pensada como temporária, logo se consolidou em dois Estados distintos:
- República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte), liderada por Kim Il-sung, com apoio soviético.
- República da Coreia (Coreia do Sul), liderada por Syngman Rhee, com apoio norte-americano.
Assim, em vez de reunificação, a península se tornou palco da Guerra Fria.
O início da Guerra da Coreia
A invasão do Sul (25 de junho de 1950)
Na madrugada de 25 de junho de 1950, cerca de 75 mil soldados norte-coreanos atravessaram o paralelo 38 e invadiram a Coreia do Sul. O ataque surpresa, apoiado pela União Soviética, foi devastador.
Em poucas semanas, os comunistas conquistaram grande parte do território sul-coreano, incluindo a capital, Seul. O governo de Rhee foi forçado a recuar para a região de Pusan, no extremo sul da península, último reduto antes da derrota total.
A resposta dos Estados Unidos e da ONU
Os Estados Unidos, temendo a expansão comunista, reagiram imediatamente. O presidente Harry Truman convocou o Conselho de Segurança da ONU, que, sem a presença da União Soviética (boicotando a organização naquele momento), autorizou uma intervenção militar.
Foram mobilizadas tropas de mais de 15 países, mas a grande maioria era formada por soldados americanos. O comando geral ficou nas mãos do general Douglas MacArthur, famoso por sua atuação na Segunda Guerra Mundial.
O contra-ataque e a virada da guerra
O desembarque em Incheon (setembro de 1950)
A virada ocorreu em setembro de 1950, com a famosa Batalha de Incheon. MacArthur planejou um ousado desembarque anfíbio no porto de Incheon, atrás das linhas inimigas. A operação foi um sucesso e forçou os norte-coreanos a recuar rapidamente.
As forças da ONU reconquistaram Seul e avançaram para o norte, cruzando o paralelo 38. Em outubro, chegaram até a fronteira com a China, no rio Yalu.
A entrada da China na guerra
A aproximação das tropas da ONU à fronteira chinesa alarmou o líder Mao Tsé-Tung, que decidiu intervir. Em outubro de 1950, cerca de 300 mil soldados chineses atravessaram o rio Yalu e lançaram um contra-ataque massivo.
As forças da ONU foram pegas de surpresa e recuaram. No início de 1951, os comunistas retomaram Seul. Esse momento marcou uma nova escalada do conflito.
O impasse e a guerra de trincheiras
A estabilização da frente de combate
Após violentas ofensivas de ambos os lados, a linha de frente se estabilizou em torno do paralelo 38. A guerra, que antes era de avanços e recuos rápidos, transformou-se em um conflito de posições, semelhante à Primeira Guerra Mundial.
Milhares de soldados viveram em trincheiras, enfrentando frio intenso, bombardeios e combates esporádicos. O conflito tornou-se longo e desgastante, sem grandes mudanças territoriais.
O papel da diplomacia
Enquanto a guerra seguia no campo de batalha, negociações começaram em julho de 1951, na cidade de Kaesong e depois em Panmunjom. No entanto, os debates foram travados por dois anos, principalmente sobre a questão da troca de prisioneiros.
O fim da guerra: o armistício de 1953
A morte de Stálin e o avanço das negociações
A virada diplomática veio com a morte de Josef Stálin em março de 1953. O novo governo soviético buscava reduzir tensões com o Ocidente, facilitando as negociações de paz.
Finalmente, em 27 de julho de 1953, foi assinado o Armistício de Panmunjom, que estabeleceu:
- Um cessar-fogo entre os dois lados.
- A criação da Zona Desmilitarizada da Coreia (DMZ), uma faixa de 4 km de largura ao longo do paralelo 38.
- A troca de prisioneiros de guerra.
Importante destacar: não houve um tratado de paz oficial, o que significa que, tecnicamente, as duas Coreias ainda estão em guerra até hoje.
Consequências da Guerra da Coreia
Custos humanos
A guerra foi devastadora:
- Estima-se entre 2 e 3 milhões de civis mortos.
- Aproximadamente 1,2 milhão de soldados norte-coreanos e chineses mortos.
- Mais de 600 mil soldados sul-coreanos e da ONU mortos ou feridos.
A península ficou em ruínas, com cidades destruídas e milhões de refugiados.
A divisão definitiva da Coreia
A maior consequência foi a divisão permanente da península.
- Coreia do Norte: consolidou um regime comunista fechado, sob Kim Il-sung, que deu início à dinastia que ainda governa o país.
- Coreia do Sul: manteve-se como aliada dos EUA e, após décadas de ditadura, se transformou em uma democracia e potência econômica.
O impacto na Guerra Fria
A Guerra da Coreia marcou a militarização da Guerra Fria. Os EUA passaram a investir fortemente na contenção do comunismo e aumentaram a presença militar na Ásia. A China, por sua vez, emergiu como potência regional.
Conclusão
Dessa maneira, a Guerra da Coreia foi muito mais do que um conflito regional: foi um ponto de inflexão da Guerra Fria, consolidando a divisão do mundo em dois blocos ideológicos. O conflito deixou milhões de mortos, devastou a península coreana e criou uma das fronteiras mais militarizadas do planeta.
Até hoje, a linha que separa a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é símbolo da tensão internacional e das feridas abertas pela guerra. Entender esse episódio é fundamental para compreender não apenas a história da Ásia, mas também os desdobramentos da política global contemporânea.
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