Introdução

O conservadorismo é uma corrente política, filosófica e cultural que valoriza a preservação de tradições, instituições e valores construídos ao longo da história. Todavia muitas vezes associado apenas à política, o conservadorismo vai além: ele é uma visão de mundo que preza pelo equilíbrio, pela estabilidade social e pelo respeito à experiência acumulada pelas gerações.

Surgido no contexto europeu dos séculos XVIII e XIX como uma reação às ideias revolucionárias e iluministas, o conservadorismo tem como principal característica a defesa de mudanças graduais, sem rupturas bruscas com o passado. Ao longo do tempo, ele se desenvolveu e adquiriu diferentes formas em diversas regiões do mundo, sempre com o objetivo de preservar aquilo que é considerado essencial para a ordem social.

Neste artigo, vamos explorar a história do conservadorismo, seus principais pensadores, os dez princípios fundamentais de Russell Kirk, as diferenças entre conservadorismo e reacionarismo, além de suas aplicações na sociedade contemporânea.

A origem histórica do conservadorismo

O conservadorismo nasceu no século XVIII, especialmente como resposta às mudanças radicais provocadas pela Revolução Francesa de 1789. O período revolucionário defendia a destruição de instituições tradicionais, como a monarquia e a Igreja, e promovia a reorganização da sociedade baseada em ideais iluministas de razão e igualdade.

O filósofo e estadista irlandês Edmund Burke, considerado o pai do conservadorismo moderno, criticou a revolução em sua obra Reflexões sobre a Revolução na França (1790). Burke argumentava que a sociedade deveria evoluir gradualmente, respeitando tradições e instituições construídas ao longo de séculos. Para ele, uma ruptura abrupta com o passado colocaria em risco a ordem social.

Assim, o conservadorismo surge como uma filosofia que valoriza a prudência (palavra fundamental para compreender o pensamento conservador), a continuidade histórica e a preservação de valores universais, em oposição a projetos utópicos de transformação total da sociedade.

Ceticismo e conservadorismo: uma conexão filosófica

O conservadorismo compartilha com o ceticismo filosófico uma postura de cautela diante da realidade. Enquanto o cético desconfia das certezas absolutas e questiona a capacidade humana de alcançar verdades definitivas, o conservador reconhece a falibilidade humana e evita projetos utópicos que pretendem reconstruir a sociedade a partir do zero. Assim, ambos os pensamentos defendem a prudência: o ceticismo sugere uma atitude investigativa e modesta diante do conhecimento, enquanto o conservadorismo propõe uma postura de respeito às tradições e instituições testadas pelo tempo.

Essa relação se manifesta especialmente na política e na cultura. O conservador vê as tradições como uma fonte de sabedoria prática acumulada, semelhante à cautela cética em aceitar apenas aquilo que resiste ao exame racional. Em ambos os casos, existe uma desconfiança em relação a mudanças bruscas ou ideias que prometem soluções fáceis para problemas complexos. Essa afinidade mostra que o conservadorismo não é apenas uma defesa do passado, mas uma filosofia que valoriza o aprendizado contínuo e a experiência histórica, características também presentes no pensamento cético.

Seguindo nesse sentido, o conservador, de modo geral, está muito vinculado com o ceticismo, devido a cautela necessária para medidas políticas, econômicas e sociais, não podendo assim sair brincando de fazer revolução ou mudanças muito abruptas.

Conservadorismo versus reacionarismo: entenda a diferença

É comum confundir conservadorismo com reacionarismo, contudo, são conceitos distintos:

  • Conservadorismo: Defende mudanças graduais e prudentes, com base na experiência histórica. Conservadores reconhecem a importância da tradição, mas não rejeitam completamente mudanças — desde que ocorram com cautela e respeitando valores fundamentais.
  • Reacionarismo: É uma postura radical que rejeita mudanças sociais, defendendo a volta a um passado idealizado. O reacionário não busca evolução gradual, mas sim restaurar estruturas antigas, muitas vezes sem considerar o contexto atual.

Em resumo, o conservador não é contra o progresso, porém ele deve ocorrer de forma ordenada, enquanto o reacionário resiste a qualquer mudança significativa, desejando retornar a modelos ultrapassados.

Principais pensadores conservadores

Edmund Burke (1729–1797)

Burke é considerado o fundador do conservadorismo moderno. Para ele, a sociedade é um organismo vivo, que deve evoluir lentamente, respeitando tradições e instituições herdadas do passado. Criticava as tentativas de impor reformas radicais, pois acreditava que o conhecimento humano é limitado e que a experiência histórica é a melhor guia para o progresso.

Joseph de Maistre (1753–1821)

Joseph de Maistre, an unexpected Freemason – Nos Colonnes

Em seguida, outro importante teórico conservador, de Maistre defendia a autoridade da Igreja Católica e do Estado como garantias de ordem social. Ele via a Revolução Francesa como um desastre e defendia uma restauração da monarquia. Sua visão é mais reacionária, associada ao tradicionalismo religioso.

Alexis de Tocqueville (1805–1859)

Alexis de Tocqueville - Democracy in America, Summary & Beliefs | HISTORY

Embora não fosse conservador no sentido estrito, Tocqueville influenciou o pensamento conservador ao analisar a democracia americana em A Democracia na América. Tocqueville alertou para os perigos do excesso de igualdade e centralização do poder, temas caros ao conservadorismo.

Russell Kirk (1918–1994)

Por fim, nos Estados Unidos, Kirk é considerado o principal nome do conservadorismo moderno. Em sua obra A Mentalidade Conservadora, ele apresentou dez princípios fundamentais do conservadorismo, como a crença em uma ordem moral permanente, o apreço pela tradição e a necessidade de prudência política.

Os 10 princípios fundamentais do conservadorismo segundo Russell Kirk

  1. Crença em uma ordem moral permanente;
  2. Adere aos costumes, à convenção e à continuidade;
  3. Acreditam no que se pode chamar de princípio da consagração pelo uso
  4. Guiados pelo princípio da prudência;
  5. Prestam atenção ao princípio da variedade.
  6. Disciplinados pelo princípio de imperfectibilidade.
  7. Convencidos de que a liberdade e a propriedade estão intimamente ligadas.
  8. Defendem comunidades voluntárias, da mesma forma que se opõem a um coletivismo involuntário.
  9. Vê a necessidade de limites prudentes sobre o poder e as paixões humanas.
  10. Entende que a permanência e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa.

Conservadorismo, liberalismo e progressismo

Embora compartilhe com o liberalismo a defesa da propriedade privada e das liberdades individuais, o conservadorismo difere por priorizar instituições históricas e ordem social. Já em relação ao progressismo, a divergência é maior: conservadores preferem mudanças graduais, enquanto progressistas promovem transformações rápidas e radicais.

Correntes do conservadorismo

O conservadorismo não é homogêneo; ele assume diferentes formas:

  • Tradicionalismo: Valoriza a religião, a moral e instituições históricas.
  • Conservadorismo liberal: Defende economia de mercado com valores tradicionais.
  • Neoconservadorismo: Surgido nos EUA no século XX, enfatiza valores democráticos e uma política externa ativa.
  • Paleoconservadorismo: Rejeita globalismo e valoriza cultura e soberania nacional.

O conservadorismo no Brasil

No Brasil, o conservadorismo se consolidou com a defesa da monarquia, do catolicismo e da ordem social. No século XX, ele passou a adotar uma postura liberal na economia, mas manteve valores tradicionais na cultura. Hoje, o termo “conservador” muitas vezes é usado equivocadamente como sinônimo de reacionário, o que gera confusões no debate político.

Conservadorismo como filosofia de prudência

Mais do que uma ideologia política, o conservadorismo é uma filosofia prática que reconhece os limites humanos e valoriza a sabedoria histórica. Em um mundo de mudanças aceleradas, ele funciona como um freio necessário, lembrando que instituições, valores e tradições são conquistas que não devem ser descartadas de forma precipitada.

Conclusão

Dessa forma, o conservadorismo é uma corrente que defende a preservação da ordem, da moralidade e das tradições, mas não se opõe ao progresso. Sua grande diferença em relação ao reacionarismo está no reconhecimento de que mudanças são necessárias, mas devem ser realizadas com prudência. Ao compreender pensadores como Burke e Russell Kirk, percebemos que o conservadorismo oferece uma visão de mundo baseada na prudência, na experiência histórica e na valorização da liberdade.

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2 thoughts on “O que é o Conservadorismo? origem, princípios e influência na sociedade e na política”

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