Introdução
A princípio, a palavra soberania aparece frequentemente em notícias, debates políticos e discursos diplomáticos. Mas, afinal, o que ela realmente significa? Em Geografia, o conceito de soberania é fundamental para compreender as relações internacionais, a organização do espaço geográfico e os limites da atuação dos Estados nacionais.
Neste artigo do FocoGeo, você vai entender o que é soberania, como esse conceito se desenvolveu ao longo da história, sua importância para a ordem mundial e os desafios que os Estados enfrentam para manter sua autoridade em um mundo globalizado e interdependente.
O que é soberania?
A soberania pode ser definida como o poder supremo que um Estado exerce sobre seu território, sua população e suas instituições. Trata-se da capacidade de um país tomar decisões políticas, jurídicas, econômicas e administrativas sem a interferência de agentes externos. É, portanto, um princípio que garante autonomia e autoridade ao governo de um Estado em relação aos demais países e às organizações internacionais.
Esse conceito está diretamente relacionado à Geografia Política, pois envolve a delimitação de fronteiras, a posse legítima do território, o reconhecimento internacional e o monopólio do uso da força dentro das fronteiras nacionais. Um país soberano é aquele que possui um governo legítimo, controle sobre seu território e reconhecimento pela comunidade internacional.
Qual é a origem do conceito de soberania?
O conceito moderno de soberania surgiu na Idade Moderna, especialmente a partir do século XVI, com o fortalecimento dos Estados nacionais europeus. O pensador francês Jean Bodin foi um dos primeiros teóricos a definir soberania como o poder absoluto do Estado sobre seus assuntos internos, sem interferência de nenhuma autoridade superior.
Mais tarde, o filósofo inglês Thomas Hobbes, em sua obra Leviatã, defendeu que o Estado soberano é necessário para manter a ordem e evitar o caos social. Para ele, os indivíduos abrem mão de parte de sua liberdade em favor do Estado, que exerce autoridade em nome da segurança e da paz.
A Paz de Vestfália, assinada em 1648 após a Guerra dos Trinta Anos, é considerada um marco na consolidação do conceito de soberania. Os tratados vestfalianos estabeleceram a ideia de que cada Estado tem o direito de controlar seus próprios assuntos sem interferência externa — um princípio que permanece na base do sistema internacional até hoje.
Quais são os tipos de soberania?
A soberania pode se manifestar de diferentes formas, dependendo do aspecto que está sendo analisado. Entre os principais tipos, destacam-se:
Soberania interna
Refere-se à autoridade que o Estado exerce dentro de seu território, sobre a população e as instituições. Isso inclui a capacidade de criar leis, cobrar impostos, manter a ordem pública e controlar os recursos naturais. A soberania interna é essencial para a estabilidade política e o funcionamento do Estado.
Soberania externa
Por outro lado, a soberania externa diz respeito à autonomia de um Estado nas relações internacionais. Um país com soberania externa tem o direito de conduzir sua política externa, assinar tratados, estabelecer embaixadas e se posicionar em organismos multilaterais como a ONU, sem sofrer imposições de outros países.
Soberania popular
Por fim, a soberania popular, trata-se da ideia de que o poder emana do povo. Em democracias, a soberania popular é exercida por meio do voto, da participação política e do respeito aos direitos fundamentais. Essa noção está prevista em constituições modernas, como a do Brasil, que afirma: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
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Qual a relação entre soberania, território e fronteiras?
Soberania e território são conceitos indissociáveis. Um Estado só pode exercer soberania se tiver controle efetivo sobre uma área geográfica delimitada por fronteiras reconhecidas internacionalmente. As fronteiras, por sua vez, definem os limites espaciais da soberania estatal.
A violação de fronteiras por agentes estrangeiros, como forças armadas ou empresas internacionais, configura uma ameaça à soberania. Do mesmo modo, disputas territoriais — como as que ocorrem no Mar do Sul da China, na Crimeia ou na Faixa de Gaza — são exemplos de conflitos que envolvem diretamente o princípio da soberania.
Além disso, a soberania implica a exploração exclusiva dos recursos naturais localizados dentro do território nacional, como petróleo, minérios, florestas e águas subterrâneas. Essa questão é central para países com grandes reservas naturais, como o Brasil e a Rússia.
A soberania está ameaçada na era da globalização?
Com a intensificação da globalização, muitos estudiosos passaram a questionar a efetividade da soberania no mundo contemporâneo. Isso porque as decisões de governos nacionais são cada vez mais influenciadas por fatores externos, como:
- Organismos internacionais (como FMI, ONU, OMC)
- Corporações transnacionais
- Acordos econômicos e blocos regionais (como União Europeia e Mercosul)
- Redes digitais e fluxos informacionais
Essas dinâmicas podem limitar a capacidade dos Estados de tomar decisões autônomas, especialmente em temas como meio ambiente, comércio, tecnologia e segurança cibernética.
Contudo, muitos analistas argumentam que a soberania não está desaparecendo, mas se transformando. Os Estados ainda são atores centrais no sistema internacional, mas precisam negociar sua autoridade com outros agentes — públicos e privados — em uma arena cada vez mais complexa e interdependente.
O Brasil é um país soberano?
Sim. O Brasil é reconhecido como uma nação soberana pela comunidade internacional. Possui fronteiras definidas, governo próprio, Constituição Federal, exército nacional, política externa independente e participa ativamente de fóruns internacionais.
No entanto, a soberania brasileira enfrenta desafios relacionados à preservação da Amazônia, ao controle de suas fronteiras e à sua dependência econômica de produtos de alto valor agregado de países desenvolvidos, especialmente em áreas de interesse estratégico e econômico. Questões ambientais e pressões internacionais muitas vezes colocam o país em dilemas entre o exercício da soberania e a cooperação global.
Conclusão
Dessa forma, a soberania é um dos pilares fundamentais da Geografia Política e das relações internacionais. Ela garante que um Estado possa exercer autoridade legítima sobre seu território, sua população e suas decisões internas e externas. Desde o surgimento dos Estados modernos, a soberania é vista como sinônimo de independência, estabilidade e ordem.
No entanto, no mundo atual, apesar dos desafios impostos pela globalização, a soberania continua sendo um princípio central na organização dos países e nas disputas por território, poder e autonomia. Compreender esse conceito é essencial para analisar os conflitos geopolíticos, os acordos diplomáticos e os limites do poder estatal em escala global.
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