A América Latina vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou os Estados Unidos de intensificarem a presença militar no Caribe e classificou a movimentação como “a maior ameaça ao continente nos últimos 100 anos”. Segundo o líder venezuelano, oito embarcações de guerra, um submarino nuclear e cerca de 1.200 mísseis estariam direcionados ao território do país, levantando preocupações sobre uma possível intervenção estrangeira.
A escalada da crise
Em primeiro lugar, em uma rara entrevista coletiva concedida em Caracas nesta segunda-feira (01/09/2025), Maduro afirmou que os EUA utilizam o combate ao narcotráfico como justificativa para uma operação militar que ameaça a soberania da Venezuela. O presidente norte-americano Donald Trump autorizou, em agosto, o envio de uma frota de guerra para águas próximas ao país sul-americano, reforçando a presença de aviões espiões e submarinos na região.
A Casa Branca não confirmou nem negou a possibilidade de uma intervenção militar, mas autoridades americanas consultadas pela imprensa sugerem que a operação pode evoluir para ações ofensivas. Analistas alertam que o tamanho da frota enviada ao sul do Caribe é desproporcional para uma missão de combate ao tráfico, levantando suspeitas sobre objetivos estratégicos, como a pressão política e o controle de recursos energéticos.
“Preparação para luta armada”
Maduro declarou que a Venezuela está pronta para responder a qualquer agressão militar. Em discurso, o líder chavista afirmou que não permitirá que Washington “ponha as mãos” sobre o território venezuelano.
“Se a Venezuela for atacada, entraremos imediatamente em um período de luta armada em defesa da pátria e da história do nosso povo”, declarou.
O governo venezuelano já mobilizou 4,5 milhões de milicianos e enviou 15 mil militares para a fronteira com a Colômbia, reforçando a vigilância em pontos estratégicos. Em carta enviada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, Maduro classificou a ofensiva norte-americana como uma “ameaça gravíssima” à paz internacional e pediu que a organização pressione Washington a respeitar a soberania da Venezuela.
A justificativa dos EUA
Por outro lado, a administração Trump argumenta que a operação militar tem como objetivo principal combater cartéis de drogas na América Latina. O governo norte-americano acusa Maduro de liderar o suposto “Cartel de los Soles”, classificado como organização terrorista pelos EUA, e oferece uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão do presidente venezuelano.
No entanto, relatórios internacionais, como o Relatório Global sobre Cocaína de 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, indicam que a maior parte do tráfico marítimo de drogas com destino aos EUA ocorre pelo Pacífico, não pelo Atlântico, onde a frota norte-americana está posicionada.
Petróleo e geopolítica
A crise também reacende o debate sobre os interesses energéticos dos EUA na região. A Venezuela possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, estimadas em 302,3 bilhões de barris, de acordo com o Relatório Mundial de Energia de 2025. Em declarações anteriores, Trump já havia sinalizado interesse no controle dos recursos energéticos venezuelanos, reforçando especulações de que a operação militar tem motivações geopolíticas.
Cenários possíveis
Especialistas em relações internacionais apontam que, apesar da retórica agressiva, uma invasão terrestre em larga escala seria arriscada e pouco provável neste momento, embora ataques aéreos seletivos não estejam descartados.
Maurício Santoro, doutor em Ciência Política e pesquisador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, comparou a atual mobilização à crise no Oriente Médio no início do ano:
“Não parece apenas um blefe. Há preparação para algum tipo de ação militar, ainda que pontual”, destacou.
Repercussão internacional
A ofensiva norte-americana tem gerado preocupação em organismos internacionais. Embora a ONU ainda não tenha emitido um posicionamento oficial, diplomatas alertam para o risco de desestabilização regional caso o confronto se intensifique. Maduro, por sua vez, insiste que a Venezuela é um país pacífico, mas garante que não cederá a pressões externas.
Conclusão
Dessa forma, a tensão crescente entre Venezuela e Estados Unidos evidencia o impacto da geopolítica no continente americano. Com tropas, submarinos e mísseis posicionados próximos ao território venezuelano, a crise se torna um dos episódios mais graves da história recente da América Latina, reacendendo debates sobre soberania, recursos naturais e equilíbrio de poder na região.
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