
Você já se perguntou de onde vem o lucro dos donos de empresas? Por que, em sistemas capitalistas, trabalhadores recebem um salário e os patrões acumulam riquezas? Essas questões foram discutidas e explicadas pelo filósofo e economista Karl Marx por meio da sua famosa Teoria da Mais-Valia. Esse conceito é essencial para compreender o funcionamento do capitalismo e as desigualdades econômicas que ele produz.
Neste artigo, vamos explicar o que é a mais-valia, como ela funciona e qual sua importância na análise econômica e social.
O que é a Teoria da Mais-Valia?
A Teoria da Mais-Valia foi elaborada por Karl Marx, filósofo, sociólogo e economista alemão do século XIX. Ela faz parte da sua obra mais conhecida, O Capital, publicada em 1867. A mais-valia é o valor excedente produzido pelo trabalhador, que não é pago a ele, mas apropriado pelo capitalista (o dono dos meios de produção).
De forma simples:
➡️ o trabalhador vende sua força de trabalho por um salário.
➡️ essa força de trabalho gera um valor maior do que o salário pago.
➡️ essa diferença, o excedente, é chamada de mais-valia.
Esse excedente é a fonte do lucro no sistema capitalista.

Como funciona a mais-valia?
Para entender melhor, imagine um trabalhador contratado para produzir móveis em uma fábrica. Durante o expediente, em apenas algumas horas de trabalho, ele já produziu valor suficiente para pagar o seu salário do dia. No restante do tempo, ele continua trabalhando e criando mercadorias cujo valor excede o custo do seu salário. Esse valor adicional — que é incorporado ao preço de venda das mercadorias — não volta para o trabalhador, mas fica com o empresário, sendo transformado em lucro.
Para Marx, isso caracteriza a exploração do trabalho assalariado, porque o trabalhador não recebe pelo valor total que gera, mas apenas por uma parte dele.
Tipos de mais-valia segundo Karl Marx
Marx identificou dois principais tipos de mais-valia:
Mais-Valia Absoluta
Ocorre quando o patrão aumenta a jornada de trabalho sem aumentar o salário. Assim, quanto mais o trabalhador trabalha além do tempo necessário para gerar o equivalente ao seu salário, maior será o lucro do capitalista.
Exemplo:
Se o trabalhador cobre o valor do próprio salário em 4 horas, mas trabalha 8, as 4 horas restantes são mais-valia absoluta.
Mais-Valia Relativa
Por outro lado, a relativa acontece quando há aumento da produtividade por meio de inovações tecnológicas, mudanças na organização do trabalho ou intensificação do ritmo de produção. Com isso, o tempo necessário para produzir o equivalente ao salário do trabalhador diminui, aumentando a parte do tempo de trabalho que gera lucro.
Exemplo:
Se com o uso de máquinas o trabalhador cobre o próprio salário em apenas 2 horas, e continua trabalhando 8, a mais-valia relativa aumenta.
Importância da Teoria da Mais-Valia
A teoria é essencial porque permite compreender a origem das desigualdades sociais e econômicas no sistema capitalista. Para Marx, a mais-valia revela que:
- O capital se acumula às custas da exploração da força de trabalho.
- As diferenças sociais se intensificam à medida que o capital se concentra nas mãos de poucos.
- As crises econômicas são inevitáveis, pois o sistema tende a gerar excesso de mercadorias e queda nas taxas de lucro.
A mais-valia, portanto, não é apenas um conceito econômico, mas também social e político, porque denuncia a forma como o trabalho humano é apropriado e transformado em lucro.
Críticas à Teoria
Embora a Teoria da Mais-Valia seja um dos conceitos mais influentes do pensamento social e econômico moderno, ela não ficou isenta de críticas, principalmente por parte de economistas liberais e defensores do capitalismo. Veja alguns dos principais pontos contestados:
Desconsideração da participação do capital
Para muitos críticos, Marx teria superestimado o papel do trabalho como única fonte de valor. Economistas da chamada Escola Marginalista, como Carl Menger e William Jevons, argumentaram que o valor de um bem depende também da utilidade que ele oferece ao consumidor e do capital investido no processo produtivo, não apenas da força de trabalho.
Negligência do risco empresarial
Outra crítica frequente é que Marx teria desconsiderado o papel do empresário, que arrisca seu capital, organiza os meios de produção e assume os prejuízos em caso de falha. Segundo essa visão, o lucro empresarial seria justificado não só pela exploração do trabalho, mas pelo risco e capacidade de inovação do empreendedor.
Dificuldade de aplicação em economias modernas
Alguns estudiosos apontam que, embora a teoria tenha sido relevante no século XIX, ela teria limitações para explicar o funcionamento das economias contemporâneas, marcadas por serviços, tecnologia, automação e sistemas financeiros altamente complexos, onde a relação direta entre tempo de trabalho e valor produzido nem sempre é tão evidente.
Inexistência de consenso sobre a origem do lucro
Na economia moderna, há várias correntes de pensamento sobre a origem do lucro e o funcionamento dos mercados. A ideia de que todo lucro decorre exclusivamente da exploração do trabalho não é unanimidade e foi questionada por teorias como a do valor utilidade, que considera a importância do desejo e da necessidade do consumidor na definição de valor.
Conclusão
A Teoria da Mais-Valia de Karl Marx é uma ferramenta fundamental para entender como funciona a geração de lucro no capitalismo e como isso está diretamente ligado à exploração do trabalho assalariado. Além de ser um conceito econômico, a mais-valia é um conceito social e geográfico, pois ajuda a explicar as desigualdades, os conflitos e as dinâmicas territoriais do mundo atual.
Compreender essa teoria permite ter uma visão mais crítica sobre as relações de trabalho, as políticas econômicas e as transformações do espaço geográfico.
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