Introdução
O nome de Thomas Hobbes está intimamente ligado ao conceito de contrato social, um dos pilares da filosofia política moderna. Seu pensamento emergiu no contexto turbulento do século XVII, marcado por guerras civis, instabilidade política e transformações sociais profundas. Para Hobbes, compreender a natureza humana e a origem do Estado era essencial para garantir a ordem e a paz em sociedades constantemente ameaçadas pelo caos.
Neste artigo, vamos analisar em profundidade quem foi Thomas Hobbes, como ele interpretava o estado de natureza, o que significava o contrato social em sua obra e por que sua visão permanece central nos debates sobre política, poder e organização social. Também veremos como suas ideias dialogam e contrastam com outros contratualistas, como Locke e Rousseau, e qual é a atualidade de seu pensamento no mundo contemporâneo.
Quem foi Thomas Hobbes?

Thomas Hobbes (1588–1679) nasceu na Inglaterra, em uma época marcada por convulsões políticas e religiosas. Educado em Oxford, Hobbes destacou-se como filósofo, tradutor e pensador político. Sua obra mais célebre, “Leviatã” (1651), é considerada um marco da filosofia política, onde expõe sua teoria sobre o estado de natureza, o contrato social e a necessidade de um soberano absoluto para manter a paz.
Hobbes testemunhou de perto os horrores da Guerra Civil Inglesa, o que moldou sua concepção pessimista sobre a natureza humana. Para ele, sem uma autoridade central forte, os homens viveriam em permanente conflito, motivados por seus desejos, medos e interesses individuais. Essa visão deu origem à famosa frase: “O homem é o lobo do homem” (homo homini lupus).
O que é o Estado de Natureza em Hobbes?
O estado de natureza é uma hipótese filosófica utilizada por Hobbes para explicar como seria a vida dos homens antes da criação do Estado e das leis. Para ele, nesse estado primitivo:
- Os homens eram essencialmente iguais em força e inteligência, o que fazia com que nenhum tivesse poder absoluto sobre os outros.
- Essa igualdade, contudo, não gerava harmonia, mas sim conflito, pois todos buscavam os mesmos recursos limitados.
- A ausência de leis e de autoridade levava à “guerra de todos contra todos” (bellum omnium contra omnes).
Nesse cenário, a vida humana seria marcada pelo medo constante, pela violência e pela insegurança, resumida na célebre frase de Hobbes: “a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, brutal e curta.”
O que é o Contrato Social em Hobbes?
Para escapar dessa condição caótica do estado de natureza, os homens teriam firmado um pacto racional: o contrato social. Esse contrato consistia em cada indivíduo abrir mão de parte de sua liberdade natural e transferir seu poder a uma autoridade comum — o soberano ou Leviatã.
Esse soberano, que poderia ser um monarca ou uma assembleia, teria poder absoluto e indivisível, com a função de garantir a segurança e a paz entre os cidadãos. Para Hobbes:
- O contrato não era entre governantes e governados, mas entre os próprios indivíduos, que concordavam em se submeter a uma autoridade superior.
- Uma vez estabelecido, o soberano não podia ser destituído, pois sua autoridade era a única garantia contra o retorno ao estado de natureza.
- A obediência ao soberano era, portanto, uma obrigação racional, já que a alternativa era a guerra civil e a anarquia.
O Leviatã: metáfora do Estado absoluto
O título da principal obra de Hobbes, “Leviatã”, faz referência a uma criatura bíblica, um monstro marinho imenso e poderoso. Essa metáfora simboliza a figura do Estado: gigantesco, temido e dotado de autoridade absoluta sobre os indivíduos.
A ideia central era que somente um poder centralizado, forte e incontestável poderia garantir a ordem social. Para Hobbes, a liberdade absoluta levava ao caos; já a obediência ao soberano garantia a paz e a sobrevivência.
Hobbes e os outros contratualistas: diferenças e aproximações
Embora Hobbes seja considerado o primeiro grande teórico do contrato social, sua visão não foi a única. Filósofos como John Locke e Jean-Jacques Rousseau também refletiram sobre o tema, mas chegaram a conclusões diferentes:
- Hobbes: defendia um soberano absoluto, pois acreditava na natureza violenta e egoísta do homem.
- Locke: via o estado de natureza como um espaço de relativa paz e defendia um contrato social que limitasse o poder do governo, garantindo direitos naturais como vida, liberdade e propriedade.
- Rousseau: acreditava que o homem era naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade; para ele, o contrato social deveria expressar a vontade geral, assegurando liberdade e igualdade.
Essas diferenças mostram como o contratualismo não foi uma doutrina única, mas um campo plural de reflexões sobre o poder e a organização política.
As principais obras de Thomas Hobbes
Além de sua famosa obra “Leviatã” (1651), onde apresenta de maneira detalhada sua teoria sobre o estado de natureza, o contrato social e a soberania, Hobbes também produziu outros escritos fundamentais que ajudam a compreender melhor sua filosofia.
Entre eles, destaca-se o “De Cive” (1642), considerado a primeira parte de uma trilogia na qual o filósofo examina a condição humana em seu estado natural, refletindo sobre a liberdade, a religião e a necessidade do governo. Essa obra antecipa muitos dos argumentos que mais tarde seriam aprofundados no Leviatã.
A segunda parte dessa trilogia é o “De Corpore” (1655), voltado para a Filosofia e as Ciências Naturais. Nesse livro, Hobbes enfatiza a importância do movimento como elemento central para entender tanto a natureza quanto a própria atividade filosófica, evidenciando sua visão mecanicista do mundo.
Já no “De Homine” (1658), Hobbes concentra-se nas paixões humanas e em sua inclinação natural, que, se não forem controladas por uma autoridade comum, podem levar à guerra e ao conflito constante. Essa obra mostra a preocupação do autor em compreender a psicologia humana e os riscos do individualismo sem limites.
Esses três livros, junto com o Leviatã, compõem o núcleo de seu pensamento e revelam como Hobbes buscava construir uma filosofia sistemática, capaz de explicar desde o comportamento humano até a organização política e social.
A atualidade do pensamento de Hobbes
Apesar de ter vivido no século XVII, Hobbes permanece atual. Sua visão sobre o contrato social e a necessidade de autoridade central continua a inspirar debates contemporâneos sobre:
- O papel do Estado em contextos de crise, como guerras, pandemias e desastres.
- A tensão entre liberdade individual e segurança coletiva.
- Os limites do poder governamental em sociedades democráticas.
Em momentos de instabilidade, o pensamento hobbesiano ressurge como uma advertência: sem instituições fortes, a humanidade pode regredir à violência e ao caos do estado de natureza.
Conclusão
Thomas Hobbes foi um dos mais influentes filósofos políticos da modernidade. Sua visão sobre o estado de natureza, o contrato social e a necessidade de um soberano absoluto moldou profundamente a compreensão do Estado e do poder. Embora muitas de suas ideias tenham sido contestadas ou reinterpretadas por outros pensadores, como Locke e Rousseau, sua obra permanece um marco incontornável para a filosofia política.
Ao analisar Hobbes, somos convidados a refletir sobre os dilemas da convivência humana: a busca pela liberdade, a necessidade de segurança e os limites do poder. O contrato social hobbesiano continua sendo uma das chaves para compreender não apenas o passado, mas também os desafios políticos do presente.
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