A Crise dos Mísseis em Cuba foi um dos episódios mais tensos e perigosos da Guerra Fria, ocorrendo em outubro de 1962. Esse confronto diplomático colocou Estados Unidos e União Soviética em rota de colisão, diante da iminência de um possível conflito nuclear de proporções globais.
Entretanto, qual o motivo? A instalação de bases de mísseis nucleares soviéticos em território cubano, a poucos quilômetros da costa americana. Ao longo de 13 dias, o mundo assistiu apreensivo às movimentações políticas e militares das duas potências, temendo o pior.
Contexto Histórico
Dessa maneira, para entender a crise, é importante situá-la dentro do ambiente geopolítico da Guerra Fria — período de intensa rivalidade ideológica, política e militar entre EUA (capitalistas) e URSS (socialistas) após a Segunda Guerra Mundial.
Sendo assim, Cuba, após a Revolução Cubana de 1959, passou de um governo alinhado aos interesses americanos para um regime socialista comandado por Fidel Castro. Essa mudança desagradou os Estados Unidos, que reagiram impondo bloqueios econômicos e apoiando tentativas de derrubar o novo governo cubano.
A mais famosa dessas tentativas foi a invasão da Baía dos Porcos, em 1961, organizada por cubanos exilados com apoio dos EUA. O fracasso da operação fortaleceu os laços entre Cuba e a União Soviética, que decidiu enviar armamentos para a ilha caribenha, incluindo mísseis nucleares.
O Início da Crise
A crise começou oficialmente em 14 de outubro de 1962, quando aviões de espionagem americanos U-2 flagraram, por meio de fotografias aéreas, instalações militares cubanas em construção para abrigar mísseis balísticos soviéticos de médio alcance. Essas armas tinham capacidade para atingir grande parte do território americano em poucos minutos.
A princípio, descoberta causou uma grave crise no governo dos Estados Unidos, então presidido por John F. Kennedy. Diante do risco, foi organizada uma força-tarefa de emergência, o ExComm, para avaliar as opções de resposta.
A Quarentena Naval e o Confronto
A estratégia escolhida por Kennedy foi anunciar um bloqueio naval, chamado de quarentena, impedindo que navios soviéticos transportando armamentos chegassem a Cuba. No dia 22 de outubro de 1962, o presidente norte-americano comunicou a decisão em cadeia nacional de televisão, elevando a tensão global.
Os EUA ameaçaram interceptar qualquer embarcação soviética que tentasse furar o bloqueio. A União Soviética, liderada por Nikita Khrushchev, reagiu acusando os americanos de agressão e desrespeito à soberania cubana.
A situação atingiu seu ápice em 27 de outubro, o chamado “sábado negro”, quando um avião U-2 americano foi abatido sobre Cuba, e um submarino soviético armado com torpedos nucleares quase disparou contra embarcações americanas.
As Negociações
Diante da iminência de uma guerra nuclear, as lideranças de ambos os lados passaram a buscar soluções diplomáticas. Khrushchev propôs a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba sob a condição de que os Estados Unidos se comprometessem a não invadir a ilha.
Pouco depois, outra exigência surgiu: a remoção de mísseis americanos da Turquia, posicionados ali e capazes de atingir o território soviético. Kennedy aceitou a proposta principal publicamente e concordou em remover os mísseis da Turquia em um acordo confidencial.
O Fim da Crise
No dia 28 de outubro de 1962, Khrushchev anunciou a retirada dos mísseis e a desmontagem das bases em Cuba. Em contrapartida, os Estados Unidos garantiram publicamente que não tentariam invadir o país caribenho. Nos bastidores, os mísseis americanos na Turquia também foram desativados alguns meses depois.
O mundo respirou aliviado — a maior crise da Guerra Fria havia sido contornada.
Consequências
A Crise dos Mísseis de Cuba deixou profundas marcas nas relações internacionais:
- Criação da “linha vermelha” direta entre Washington e Moscou, facilitando a comunicação entre os dois presidentes para evitar novas situações de risco.
- Assinatura de tratados de controle nuclear, como o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares, em 1963.
- Fortalecimento de Cuba como aliado soviético e aumento de seu isolamento em relação aos demais países americanos.
- Consolidação da liderança de Kennedy e abalo na imagem de Khrushchev, que perderia o cargo em 1964.
O Papel do Brasil
Na ocasião, o Brasil, sob a presidência de João Goulart, manteve uma postura de neutralidade e diplomacia ativa. Defendeu a não proliferação de armas nucleares na América Latina e atuou na ONU e na OEA a favor de uma solução pacífica.
Por fim, a atuação brasileira ajudou a reforçar a ideia de diálogo multilateral como alternativa para resolver impasses internacionais.
Conclusão
Dessa forma, a Crise dos Mísseis de Cuba simboliza o perigo extremo da corrida armamentista da Guerra Fria e o quanto o mundo esteve próximo de um conflito nuclear total. Ela também serviu de lição para a importância de canais diplomáticos, negociações e do equilíbrio de poder nas relações internacionais.
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