O stalinismo foi um regime político totalitário estabelecido por Josef Stalin na União Soviética, entre os anos de 1927 e 1953. Esse período marcou uma das fases mais radicais e repressivas da história soviética, com forte centralização do poder, controle ideológico, perseguições políticas, expurgos em massa, além de políticas econômicas agressivas, como a coletivização agrícola e a industrialização forçada.
Saiba a diferença entre: Autoritarismo e totalitarismo
Embora tenha transformado a URSS em uma potência militar e industrial, o stalinismo foi responsável por milhões de mortes e por uma profunda marca de autoritarismo e violência no país. Neste artigo, vamos analisar a origem, características, impactos e o fim desse regime histórico.
A ascensão de Josef Stalin ao poder
Após a Revolução Russa de 1917 e a Guerra Civil que se seguiu, a União Soviética foi liderada por Vladimir Lenin. Contudo, com a deterioração da saúde de Lenin a partir de 1922, abriu-se uma disputa interna no Partido Comunista pela liderança do país. Embora Lenin tenha manifestado desconfiança em relação a Stalin em seus últimos escritos, Stalin já havia acumulado poder como Secretário-Geral do partido e contava com o apoio de setores importantes da burocracia.
A disputa pelo poder envolveu figuras como Leon Trotsky, Zinoviev e Kamenev, que acabaram sendo progressivamente isolados, expulsos do partido e, mais tarde, mortos ou perseguidos. Em 1927, Stalin consolidou seu domínio sobre o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), iniciando oficialmente a era stalinista.
Características do stalinismo
O stalinismo pode ser compreendido como uma versão altamente centralizadora, totalitária e repressiva do socialismo soviético. Dentre suas principais características, destacam-se:
- Culto à personalidade: Stalin passou a ser retratado como o “pai dos povos” e o grande líder da revolução. Sua imagem era exaltada em cartazes, livros, filmes e discursos oficiais.
- Controle absoluto do Estado: todas as decisões econômicas, sociais e políticas estavam sob o comando do governo central.
- Repressão e violência política: perseguições, prisões em massa, torturas, execuções sumárias e exílio de opositores reais ou imaginários.
- Industrialização forçada: substituição da Nova Política Econômica (NEP) por planos quinquenais de crescimento rápido.
- Coletivização da agricultura: abolição da propriedade privada no campo e criação de fazendas coletivas controladas pelo Estado.
Industrialização da União Soviética
Com o objetivo de transformar a URSS em uma potência moderna, Stalin lançou, a partir de 1928, os chamados Planos Quinquenais, que estipulavam metas para diferentes setores da economia. O primeiro plano previa, por exemplo, um aumento de 180% na produção industrial e de 335% na geração de eletricidade.
Esses planos concentraram-se, principalmente, em setores da indústria pesada, como a siderurgia, a metalurgia e a produção de máquinas. Apesar das condições de trabalho extremamente duras, metas muitas vezes inatingíveis e punições severas, os resultados foram significativos: a URSS alcançou altos níveis de produção industrial em poucos anos.
A coletivização da agricultura
Paralelamente à industrialização, o governo soviético impôs a coletivização forçada das terras agrícolas. A partir do final da década de 1920, propriedades privadas foram abolidas e os camponeses obrigados a trabalhar em kolkhozes (fazendas coletivas) ou sovkhozes (fazendas estatais).
Essa medida visava, entre outros objetivos, aumentar a produção de alimentos para sustentar as cidades industrializadas, eliminar os chamados kulaks (camponeses ricos) e submeter o campo ao controle do Estado. No entanto, houve forte resistência por parte dos camponeses, que destruíram plantações e mataram rebanhos como forma de protesto.

A repressão foi brutal: milhares de pessoas foram deportadas para regiões remotas como a Sibéria ou executadas. A coletivização também causou queda na produção agrícola, resultando em episódios de fome devastadora.
A Grande Fome e o Holodomor
Entre 1932 e 1933, a União Soviética enfrentou uma das maiores tragédias de sua história: a Grande Fome, com destaque para a Ucrânia, onde o episódio ficou conhecido como Holodomor. Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas tenham morrido de fome em todo o país.
A crise foi provocada pela combinação de metas agrícolas inatingíveis, confisco forçado de grãos, destruição de colheitas e bloqueio da migração de camponeses famintos para as cidades. Muitos historiadores defendem que o Holodomor foi deliberado, como forma de punir a resistência camponesa ucraniana à coletivização e ao domínio soviético.
Os expurgos e o terror político
Durante os anos 1930, especialmente entre 1936 e 1938, Stalin promoveu o chamado Grande Expurgo (ou Grande Terror), uma campanha sistemática de perseguição, prisão, tortura e execução de milhões de pessoas, incluindo membros do próprio Partido Comunista, militares de alto escalão, intelectuais, religiosos, minorias étnicas e cidadãos comuns.
Os processos eram baseados em confissões forçadas sob tortura e resultavam, geralmente, em execução por fuzilamento, muitas vezes com um tiro na nuca. Estima-se que entre 10 e 20 milhões de pessoas tenham sido mortas pelo regime stalinista, além de outras milhões enviadas para os gulags (campos de trabalho forçado).
As minorias étnicas, como os poloneses, bielorrussos, lituanos e tártaros, também foram alvos da repressão, especialmente quando apresentavam traços de nacionalismo. O caso dos poloneses é emblemático: cerca de 85 mil deles foram mortos somente no contexto do Grande Expurgo.
O papel de Stalin na Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da Alemanha Nazista. Apesar de inicialmente ter assinado um pacto de não agressão com Hitler em 1939, a URSS foi invadida pelos alemães em 1941 (Operação Barbarossa).
Stalin foi surpreendido pela invasão e, devido aos expurgos anteriores que eliminaram muitos dos melhores comandantes do Exército Vermelho, as forças soviéticas sofreram grandes derrotas nos primeiros meses. No entanto, a capacidade de reorganização, a resistência popular e o poderio industrial acumulado permitiram à URSS reverter o curso da guerra a partir de 1942.
A Batalha de Stalingrado (1942-1943) foi um ponto de virada, culminando em 1945 com a tomada de Berlim pelas tropas soviéticas. Stalin exigiu que os soviéticos liderassem o ataque final à capital alemã, o que resultou em uma das mais sangrentas campanhas militares da história.
Com a vitória, Stalin foi celebrado como herói nacional e consolidou ainda mais seu poder. No entanto, o custo humano foi imenso: estima-se que mais de 20 milhões de soviéticos morreram durante a guerra.
O culto à personalidade e a influência internacional
No pós-guerra, o culto à figura de Stalin atingiu seu ápice. Monumentos foram erguidos em sua homenagem, cidades foram rebatizadas (como Stalingrado) e sua imagem era ubíqua nos meios de comunicação. O líder soviético também ampliou sua influência sobre os países do Leste Europeu, impondo regimes socialistas alinhados ao modelo soviético, dando início ao que seria conhecido como Cortina de Ferro.
Além disso, Stalin teve participação direta na Guerra da Coreia (1950-1953), fornecendo apoio militar ao regime comunista da Coreia do Norte. Também apoiou a Revolução Chinesa, fortalecendo os laços com o novo governo de Mao Tsé-Tung.
O fim do stalinismo
Josef Stalin morreu em 5 de março de 1953, vítima de um derrame cerebral. Sua morte marcou o fim de uma era na União Soviética, embora o stalinismo tenha deixado legados duradouros. Em 1956, seu sucessor Nikita Kruschev denunciou publicamente os crimes cometidos por Stalin no XX Congresso do Partido Comunista, num processo chamado de desestalinização.
Essa denúncia causou forte impacto dentro e fora da URSS e levou à libertação de prisioneiros políticos, ao fechamento de campos de trabalho forçado e ao fim do culto à personalidade. Mesmo assim, o modelo autoritário e centralizado do stalinismo continuaria a influenciar regimes socialistas em outras partes do mundo.
Conclusão
O stalinismo foi um dos regimes mais autoritários e repressivos do século XX. Embora tenha promovido avanços na industrialização e consolidado a União Soviética como potência mundial, o custo humano foi imenso, com milhões de mortos, perseguidos e aprisionados.
A compreensão do stalinismo é essencial para entender não apenas a história da União Soviética, mas também os impactos de regimes totalitários e a complexa relação entre ideologia, poder e violência no século passado.
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