Introdução

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Benito Mussolini (1883 – 1945)

O fascismo é uma das ideologias políticas mais polêmicas e debatidas do século XX. Surgido na Itália, após a Primeira Guerra Mundial, esse movimento rapidamente se transformou em regime de governo e serviu de inspiração para diversas experiências autoritárias ao redor do mundo. Liderado por Benito Mussolini, o fascismo se consolidou como um sistema político de caráter nacionalista, antiliberal e violento, marcado pelo culto ao líder, pela perseguição a opositores e pelo controle absoluto do Estado sobre a sociedade.

Embora tenha surgido em um contexto histórico específico, o fascismo ultrapassou as fronteiras italianas e deu origem a movimentos semelhantes, como o nazismo na Alemanha, o salazarismo em Portugal e o franquismo na Espanha. Além disso, no período contemporâneo, o termo “neofascismo” passou a ser usado para designar práticas políticas que retomam ou ressignificam elementos do fascismo clássico, adaptando-os às realidades atuais.

Neste artigo, compreenderemos em profundidade o que foi o fascismo, como se estruturou, quais foram suas principais características e de que maneira influenciou a política mundial, além de explorar seus desdobramentos contemporâneos.

Afinal, o que é o fascismo?

Definir o fascismo não é tarefa simples. Muitos historiadores e cientistas políticos destacam a dificuldade de se chegar a uma definição única, já que o movimento assumiu formas diferentes em cada país. George Orwell chegou a afirmar que “mesmo os grandes Estados fascistas diferem em boa medida um do outro em estrutura e em ideologia”. Isso significa que, apesar de existirem pontos comuns, o fascismo é um fenômeno camaleônico, capaz de se adaptar a diferentes contextos políticos, sociais e culturais.

De maneira geral, podemos dizer que o fascismo é uma ideologia política de extrema-direita, marcada por um nacionalismo exacerbado, pela defesa da hierarquia social, pela militarização da política e pelo uso da violência como ferramenta de ação. Diferentemente das democracias liberais, que se baseiam na pluralidade política e na defesa das liberdades individuais, o fascismo desprezava a diversidade de partidos, a livre expressão e qualquer forma de oposição.

É importante ressaltar, entretanto, que embora seja classificado no espectro da direita radical, nem toda prática conservadora pode ser considerada fascista. Do mesmo modo, na esquerda, regimes autoritários como o stalinismo também demonstraram práticas radicais, mas em campos ideológicos diferentes. O fascismo, portanto, é uma manifestação política particular, que combina autoritarismo, populismo, nacionalismo e repressão.

Contexto histórico do surgimento do fascismo

O fascismo surgiu em um momento de intensa crise na Itália. O país havia participado da Primeira Guerra Mundial ao lado dos Aliados, mas ao final do conflito não obteve as recompensas territoriais que esperava. Esse “sentimento de vitória mutilada” gerou frustração na sociedade italiana, que se somava a uma grave crise econômica e ao crescimento do desemprego.

Os veteranos de guerra, sem oportunidades de trabalho e desamparados pelo Estado, tornaram-se terreno fértil para a radicalização política. Ao mesmo tempo, o crescimento dos movimentos socialistas e comunistas, inspirados na Revolução Russa de 1917, despertava medo nas elites italianas e nos setores conservadores da sociedade. Nesse cenário, Benito Mussolini, ex-socialista convertido ao nacionalismo, fundou em 1919 os Fasci Italiani di Combattimento, organização que posteriormente se transformaria no Partido Nacional Fascista.

A ascensão do fascismo foi marcada pelo uso estratégico da violência. Os chamados camisas negras, milícias fascistas organizadas por Mussolini, promoviam ataques a sindicatos, greves e opositores políticos, muitas vezes com a conivência das autoridades. Essa tática violenta, somada ao discurso nacionalista e ao apoio de setores conservadores, permitiu que o fascismo crescesse rapidamente.

Em 1922, os fascistas organizaram a famosa Marcha sobre Roma, quando milhares de militantes se dirigiram à capital italiana para pressionar o rei Vítor Emanuel III a nomear Mussolini como primeiro-ministro. Diante da instabilidade política, o rei cedeu e nomeou Mussolini, marcando o início do regime fascista na Itália.

RECOMENDAÇÕES DE LEITURAS

Características do fascismo

Apesar de suas variações em diferentes países, o fascismo clássico, representado pela experiência italiana, possuía um conjunto de características fundamentais.

Em primeiro lugar, tratava-se de um sistema político unipartidário, no qual apenas o partido fascista era reconhecido legalmente. Todos os demais partidos foram extintos, e a participação política ficou restrita ao movimento liderado por Mussolini.

Outro traço central era o culto à personalidade do líder. Mussolini, conhecido como Duce (chefe), era retratado como figura quase mítica, único capaz de conduzir a Itália ao seu destino glorioso. Essa adoração ao líder se repetiria em outros regimes fascistas, como o nazismo de Adolf Hitler.

Benito Mussolini (à esquerda) desfilando em carro aberto ao lado de Adolf Hitler
Benito Mussolini e Adolf Hitler

O fascismo também era marcado pelo controle absoluto do Estado sobre a sociedade. Economia, cultura, educação e até mesmo os costumes eram rigidamente supervisionados. A propaganda desempenhava papel essencial nesse processo, difundindo valores nacionalistas, militaristas e autoritários.

Outro ponto importante era o desprezo pela democracia liberal e pelos valores iluministas. O regime fascista rejeitava eleições livres, liberdade de imprensa e separação de poderes, defendendo um governo centralizado e autoritário.

Além disso, o fascismo era profundamente antiliberal e antissocialista, atacando tanto os princípios da democracia representativa quanto os movimentos de trabalhadores. Seu objetivo era enfraquecer o socialismo e o comunismo, ao mesmo tempo em que preservava os privilégios das elites econômicas.

Por fim, não se pode esquecer o nacionalismo exacerbado e a ideia expansionista. Mussolini defendia que a Itália deveria resgatar a glória do Império Romano e expandir seu território. Essa retórica imperialista levou o país a aventuras militares, como a invasão da Etiópia em 1935.

O fascismo italiano e sua expansão pela Europa

O fascismo italiano foi pioneiro, mas logo inspirou outros regimes autoritários na Europa. A Alemanha nazista, liderada por Adolf Hitler, incorporou elementos do fascismo, mas deu um viés ainda mais extremado à questão racial, transformando o antissemitismo em um dos pilares de seu regime.

Em Portugal, António de Oliveira Salazar estabeleceu o chamado Estado Novo, um regime autoritário de inspiração fascista que perdurou por décadas. Na Espanha, Francisco Franco assumiu o poder após a Guerra Civil (1936-1939) e implantou um regime com características semelhantes. Outros países do leste europeu também testemunharam o surgimento de movimentos alinhados ao fascismo, como na Croácia, Hungria e Romênia.

A expansão do fascismo esteve diretamente ligada ao clima de instabilidade do período entre guerras. A crise econômica de 1929, que abalou economias em todo o mundo, fortaleceu o discurso populista e autoritário desses regimes, que se apresentavam como alternativa à “decadência” das democracias liberais e à ameaça do socialismo.

O colapso do fascismo

O fim do fascismo italiano esteve ligado ao desenrolar da Segunda Guerra Mundial. Aliada da Alemanha nazista e do Japão, a Itália participou do Eixo, mas logo enfrentou derrotas militares. Em 1943, após a invasão aliada ao sul do país, Mussolini foi destituído do cargo de primeiro-ministro e preso. Resgatado pelos alemães, ainda liderou uma república fantoche no norte da Itália, mas em 1945 foi capturado e executado por guerrilheiros da resistência.

Apesar da queda do regime, a ideologia fascista não desapareceu completamente. Seus princípios continuaram a inspirar grupos extremistas em diferentes partes do mundo, especialmente após a Segunda Guerra.

Neofascismo: permanências e adaptações

No período pós-guerra, o termo neofascismo passou a ser utilizado para identificar movimentos que, embora não reproduzissem integralmente o fascismo clássico, apresentavam traços semelhantes. Esses grupos geralmente se caracterizam por um patriotismo exacerbado, muitas vezes associado à xenofobia e à violência; pelo desprezo às instituições democráticas; e pela construção de uma retórica que identifica “inimigos internos” responsáveis pela suposta decadência da nação.

Diferente do fascismo do século XX, muitos movimentos neofascistas atuais atuam dentro de sistemas democráticos, utilizando eleições e redes sociais para difundir suas ideias e conquistar espaço político. Essa adaptação demonstra a versatilidade da ideologia, capaz de se moldar a diferentes contextos históricos.

Uso do termo “fascismo” na atualidade

É importante destacar que, atualmente, o termo “fascista” é frequentemente usado de maneira indiscriminada para designar qualquer postura autoritária ou violenta. No entanto, esse uso generalizado pode esvaziar o conceito histórico e político do fascismo. George Orwell já alertava, ainda em 1944, que a palavra vinha sendo aplicada de maneira vaga e imprecisa, perdendo sua força explicativa.

Para compreender corretamente o fascismo, é necessário diferenciá-lo de outras formas de autoritarismo e identificar suas características centrais: nacionalismo extremado, culto ao líder, unipartidarismo, desprezo pela democracia liberal, militarização e violência política.

Conclusão

Com isso, o fascismo foi mais do que um regime político que marcou a Itália entre 1922 e 1943. Ele representou uma ideologia autoritária que influenciou diversos países e deixou marcas profundas na história do século XX. Nascido em um contexto de crise econômica, social e política, o fascismo se fortaleceu ao explorar ressentimentos, manipular o medo e oferecer soluções simplistas para problemas complexos.

Dessa forma, apesar de ter sido derrotado na Segunda Guerra Mundial, sua herança ideológica persiste em diferentes formas de neofascismo. Por isso, compreender o fascismo em sua essência é fundamental não apenas para entender o passado, mas também para analisar os riscos que determinadas práticas políticas ainda representam na atualidade.

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